domingo, dezembro 02, 2007

Na varanda

Se eu soubesse desenhar
faria você agora
sua silhueta contra os prédios
seu cigarro na mão
seu cabelo espetado
seu tronco contra as grades da varanda
E quando um carro passa na rua
ele ilumina seu rosto
triste
e você não sabe, mas eu vi
de relance
o brilho daquela única lágrima.

Então, já que não sei desenhar
faço esse poema
só pra que você saiba que
alguém viu.
alguém se importa.
e alguém esteve com você.

terça-feira, outubro 16, 2007

...

Resolvi escrever e
não sei porquê.
Espero e espero
não sei pelo quê.
Ao lado de um telefone
que não vai tocar.
Querendo uma mensagem
que não vai chegar.
Te dando um poder
que você não tem.
Planejando uma visita
que não vou fazer.
Sofrendo por algo
que a vida não me deu:
Chorando por um pai
que não é o meu...

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ficção

Nosso amor não foi feito do que se vive
Foi, mais, feito da nossa imaginação
Tudo que não vivemos, que não passamos
Os jantares que não jantamos
As mentiras em que acreditamos
E as verdades que inventamos.
Mas mesmo com tanta ficção, que ninguém diga
que nós não nos amamos.

sábado, agosto 18, 2007

Ciranda

dão as mãos em "x"
relembrando a infância
e começam a girar
cada vez mais rápido e rápido e rápido
giram mulheres
giram garotas
giram meninas
giram, e giram
pra que a tontura
a velocidade
o vento
as faça esquecer
esquecer do canalha
esquecer do casado
esquecer do poeta
esquecer do chão
esquecer de tudo
esquecer que o mundo existe
e que elas foram enganadas
porque ele não é como nos filmes
sempre com final feliz.
Elas giram
e esquecem
e são felizes,
por cinco segundos,
completamente felizes.
Até que o equilibrio se vai
elas se lembram do chão
caem
sentam
e riem.
Riem, porque não podem chorar.
Riem, porque o mundo é terrível
mas por cinco miseráveis
e incontáveis segundos
elas ganharam
e foram felizes
e esqueceram.

domingo, agosto 12, 2007

De novo

Basta apagar a luz
e deitar na cama
que você está lá
comigo.
- Mentira.
Já estava lá antes.
Passou o dia todo esperando
e o dia todo eu o ignorei.
Mas agora, quando me deito
é a sua voz, seu cheiro,
seus braços, seu gosto
tudo.
E eu viro pro lado da cama
onde você dormia
e mantenho diálogos imaginários
e quase posso ver seu rosto
que não está aqui.

Mas ah, meu querido, eu espero
e espero
e espero
ansiosamente
conformadamente
pelo dia em que, de tanto imaginar,
seu fantasma vai tomar forma
bem ao meu lado.
E quando eu lhe falar
ele vai me responder,
me dar um beijo de boa noite,
me abraçar
e dormir.

E aí, saberei
que eu não preciso mais acordar.

segunda-feira, julho 23, 2007

Em algum lugar

Um pufe amarelo
Uma sala bagunçada
Uma cabeleira castanha
Soltando bolhas de sabão
Num domingo a noite,
numa casa vazia.

Uma banheira cheia
Um vidro embaçado
Um cabelo rente
Neve caindo lá fora
E aqui dentro, saudades
numa casa vazia.

Uma cozinha enorme
Azulejos impecáveis
Cabeça nos braços,
braços na mesa.
Soluços incontroláveis
numa casa vazia.

Instantâneos distantes de
momentos femininos
totalmente disperdiçados
inúteis
e sozinhos...

quarta-feira, julho 18, 2007

Abgrund entlang

Cada vez mais perto
Da beirada do abismo.
Já a vejo em minha frente.

Tiro de mim, primeiro, o amor
já que ele não me servirá mais.
já que ele não nos serve mais.
e ficam no chão nossos erros.

Dou um passo a frente
Cada vez mais perto
Da beirada do abismo.

Depois, me despojo da razão
e o alcool, cigarro e a loucura
invadem minha dor, me alucinam
perdida nas areias secas.

Outro passo a frente
Já vejo, tão perto...
a beirada do abismo.

Agora é a dor que fica
estendida ao relento
Nem dela eu preciso mais.
Já não funciona o seu alento.

Outro passo adiante
Ela vem chegando.
A beirada do abismo.

Busco em mim a resolução
pra isso, deixo a esperança.
Tão tolinha ela... melhor que fique.
Aonde eu vou, não cabem os sonhos.

Sempre em frente, sempre
cada vez mais perto
de que? Abismo.

Saem minhas crenças...
e vou me tornando aos poucos
algo monstro, algo crime
espelho dos meus defeitos.

Cada vez mais perto
de ficar frente a frente
de mim mesma, no abismo...

Quem eu sou? Já não sei
deixei a mim mesma
- ou os restos de quem eu era
pois já não me vejo mais.

Já quase chegando
tão infimamente perto
da beirada do abismo...

Mas na hora de deixar pra trás
as lembranças do passado
que são tudo que tenho,
que ainda guardo com carinho...

Eu reluto.

E, no instante em que reluto,
ouço uma voz de longe
vinda da direção da estrada
e que há muito eu não escutava:


"Não deixa ela cair... não deixa ela cair..."


Os olhos abrem de novo
e me vejo cara a cara
com a beirada do abismo.

Já não posso voltar pra estrada
e o que deixei no caminho
é irrecuperavel. Inestimável.
Não voltarei a ser o que era.

Só eu e o abismo
ele pisca, eu respondo.
não posso ir nem voltar.

Tomo então um novo rumo.
Eu vou, mas não na estrada.
Serei eu de novo, sem saber quem sou.
Mas isso eu nunca soube mesmo.

Seguirei, apreciando a vista
só eu e minhas memórias
lado a lado... com o abismo.


Abgrund entlang = "junto ao abismo, ao lado do abismo" "along abyss"

quinta-feira, julho 05, 2007

Mentirosa

Eu minto pro meu estômago
quando finjo que é leite
o refrigerante de ontem que tomo
as sete horas da manhã
e quando finjo que é arroz
feijão, carne e batata
o pão com mortadela no almoço
e no jantar
e no lanche

Eu minto pros meus olhos
quando finjo que não é o grau
dos meus óculos que precisa aumentar.
É o letreiro do ônibus que
de repente está
escrito em fonte menor.

Eu minto pros meus pés
quando finjo serem confortáveis
os sapatinhos sociais obrigatórios
que - eu digo - não machucam
não fazem bolhas
e são o meu número.

Eu minto pro meu cabelo
quando digo à ele que não é
por causa da moda que ele
é constantemente alisado
colorido
maltratado.
Mas é que liso é tão
mais fácil de cuidar!

Eu minto pro sistema imunológico
e tento convencê-lo
de que não estou ficando doente
de que o banho frio
causado pela falta de gás
não é tão ruim assim
e deve até
fazer bem pra pele.

Eu minto pra todos esses.
E não sei se eles acreditam.

Eu minto também pro meu coração
quando lhe obrigo a aceitar outro
quando lhe digo que não há mais nada
quando finjo que não vejo dentro dele
e quando repito, dia e noite
ao acordar,
ao ir dormir,
que está tudo bem.

Mas este...
Este eu tenho certeza que não acredita.

domingo, julho 01, 2007

Imensidões II

Vai, me diz quem você é?
Gosto de cereja e café.
E do que mais que tu gosta?
Vou ganhar a nossa aposta.
Ah é? Você vai ver.
Me conta da tua casa...
Por que imaginação tem asa?
Vista bonita assim não tem.
Vamos para a praia?
Vamos almoçar?
Tem uma peça legal
lá no Municipal.
Sai do trabalho e vem!
Quero te ver também.
Vamos ficar falando besteira
e vendo a vida passar.
Hoje, minha imensidão é mar.

quarta-feira, junho 27, 2007

Imensidões

Deserto.
Minha imensidão é o deserto.
Minha imensidão não é o mar
não é azul, não é de amor.
Minha imensidão é vermelha.
é sozinha.
é só minha.
Mar e deserto parecem
os dois lados da mesma moeda,
mas o que o oceano acalenta
o deserto desespera.
A solidão do mar não é sozinha
pois as ondas sussuram conosco
Mas no deserto, só quem fala
é a areia, o sol, o osso.
O mar tem a paisagem,
o pôr do sol,
os pássaros,
as conchas.
O deserto não tem nada.
O deserto só tem
você.
Por isso o deserto assusta mais.
Por isso os dias no deserto
são loucura
delírio
castigo.
Porque, no deserto,
a imensidão não de areia
o abismo não é de pedra
a maluquice não é o vento.
o castigo não é o sol.

No deserto...
a imensidão é você.
o abismo é você.
o louco é você.
o castigo é estar com você
e tentar
sempre andar
e chegar
a algum lugar
são...
e salvo.
















ps: 100ª postagem no caderninho. Uau, que honra.
pps: foto do deserto do Atacama, tirada pela Leila, e poema escrito por idéia dela /leila_liberty

quinta-feira, junho 21, 2007

Arpoador

Nas areias do Arpoador
escrevi seu nome, a sonhar.

Mas as águas que o levaram
nunca irão me perdoar.


Tivesse eu escrito na pedra

e o nosso amor poderia durar...


Deixei nas areias a minha letra.
Seu nome, meu nome, e um coração.
Mas veio uma onda, sem pressa

E levou nós dois para a escuridão.


Tivesse eu escrito na pedra

e o nosso amor poderia durar...


As areias ficaram vazias

sinto o frio da minha solidão.

Queria só que o mar me engolisse

sem esperança ou recordação.


Tivesse eu escrito na pedra

e o nosso amor poderia durar...


Pelas areias o vento sopra

as ondas não param de quebrar.

Sinto que querem me dar um conselho

mas eu não o quero aceitar.


Tivesse eu escrito na pedra

e o nosso amor poderia durar...

Nas areias desenhei seu nome
mas o mar o fez se apagar.

Escuto o que o vento me diz:

vai passar, vai passar...


Tivesse eu escrito na pedra.


sábado, junho 09, 2007

próximo

eu era uma mulher de um homem só

(era
fui
pretérito perfeito
da pqp)

mas você decidiu que não mais

(deliberadamente
inadvertidamente
terrivelmente
mentirosamente)

então ficarei aqui esperando

(sentando
levantando
cantando
cansando)

até que você veja que sou eu

(eu
ela
quem?
ninguém)

a mulher da sua vida

(vivida
sofrida
curtida
ferida)

mas enquanto a hora não chega

(chega
chega
chega!
chegará)

o negócio é seguir o mandamento

(invento
alimento
o próprio
tormento)

"ame o próximo"

(o próximo
o ponto
ponto
final.)

terça-feira, maio 01, 2007

Poema de Verão

Essa menina que passa
Com o olhar de outono
Vira os olhos da praça
Mas seu coração já tem dono

Essa menina que, linda,
Espera um abraço no inverno
Ela só faz sabe e faz saber
Que seu lindo amor é eterno

Essa menina que senta
Com jeito de primavera
Perde a cabeça ao pensar
Nesse amor que a espera

Menina que vejo parada
Com um sorriso que me lembra o verão
Já está enamorada
Vê-se em seu coração...

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Quietinho

Eu gosto da solidão, porque gosto de ouvir alguém chegar...
Passaos tímidos de grandes corações...
Pensam que estou triste, e vem para me animar...

Gosto de ouvir suas vozes preocupadas
Gosto de ver seus risos enfeitados de timidez
Gosto quando sentam-se do meu lado
E, curiosas, dizem baixo: "mostra o poema que você fez.."

Gosto assim, quando os olhares se cruzam
E rapidamente se entendem e olham para o céu
Gosto quando sabem dos amores
Que eu crio e que brotam no papel...

Mas existem também os dias cinzas de solidão
Dias que nunca acabam, e acabam com o coração
Em dias como esse, eu me ponho a escrever
Porque sei que nesses dias
Você não vai aparecer...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Cantinho Semi-Particular

Me procurem onde reina a solidão
Onde o silêncio só é quebrado por um canto tímido
E pela chegada e saida dos monstros urbanos
Que com sua presença fazem calar
E que vão embora sem demorar

O céu de pombos
O chão das arvores e mirmecólogos
O lugar é tão cheio
Que chega a ficar vazio
Por horas inteiras, à fio

Minha amiga solidão
Grande amiga solidão
Afugentada por um belo coração
Me faz sorrir e pensar
Na bobeira desse, vulgo, qualquer lugar
E dar-lhe tão nobre titulo
De semi-particular

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Eu ando, paro, e desapareço.
Eu escuto, olho, e depois me calo.
Eu sento, penso, entao escrevo
O dia, hoje, está muito claro